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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

LGBTs - A Humilhação e Baixos Salários.


Após a publicação anterior “Pai, Não Consigo Te Amar”, recebi muitos e-mails e mensagens em meu facebook pedindo que eu falasse sobre o assédio moral e sexual sofridos pelos lgbts em seus empregos.

Para minha surpresa, a quantidade de mensagens foi tamanha que não pude deixar de falar sobre o assunto. Mesmo porque, não pude evitar as lembranças dos assédios tanto moral como sexual que sofri em muitos lugares que trabalhei.

A comunidade LGBT sofre um turbilhão de discriminações e ataques das formas mais diferenciadas possíveis e isso é de conhecimento de tod@s. Porém, o silêncio continua sendo fator predominante aos ataques e humilhações ocorridos em seus empregos.

Além de não bastar o leque variado de comentários, brincadeiras e ofensas disfarçadas de humor, os LGBTs sofrem e muito dentro de seus empregos o assédio moral e até sexual de seus colegas de trabalho e superiores.

Frases como “É sapatão, porque ainda não experimentou uma ‘pica e‘não sabe o que é bom.”, “Falta de pai, na criação do viado.”, “Nasceu homem, nunca vai ser uma mulher!”, “Não tem pau, nunca será um homem.” são freqüentes.

Como se a essência de alguém tivesse que experimentar alguma coisa para saber o que se é ou ser alguém.

Pense. Neste exato momento, uma trans está sendo alvo de chacota e humilhação em seu local de trabalho e irá até o banheiro para chorar, enquanto uma lésbica está sendo assediada sexualmente pelo seu superior que lhe da duas escolhas “Ou dá, ou perde o emprego.” E muitas delas já terão perdido seus empregos até o final deste dia, ou desta leitura, assim como eu que nos anos 80 no RJ, após uma investida do diretor do local que trabalhava fui humilhada quando disse que eu não namorava homens, mas mulheres. Não contente, ele fez chantagem ao me dizer se eu não saísse com ele seria demitida. Continuei firme em minha negativa e o impulso de dar um soco na cara dele foi grande, mas me segurei, pois eu precisava do emprego. Alguns dias depois, como era de se esperar convocou outras duas funcionárias que instruídas por ele inventaram histórias absurdas contra mim. 

Agora misture um harém de funcionárias que nunca diziam não e se submetiam a tudo para manter o emprego + orgulho ferido + preconceito + ignorância é = Justa causa!

Perdi as contas de quantas queixas já ouvi regadas pelas lágrimas e soluços dos lgbts injustiçados e humilhados em seus empregos.

Não diferente do que acontece com os héteros, existem locais de trabalho onde as pessoas são mais automáticas que as próprias máquinas e nada além de respirar lhes são permitido. Pensar sozinho, ter opinião e sugerir melhoras para o crescimento em conjunto é quase considerado um crime, é o suicídio profissional. Sendo assim, não é raro encontrar lgbts que dizem sim para tudo e são até coniventes com os ataques que presenciam contra outros lgbts que fazem parte de seu círculo social de trabalho, pois é mais fácil unir forças para perseguir do que perder o emprego ou se tornar o alvo dos perseguidores.

Conheço uma trans, que sofre diariamente com as humilhações vindas de sua superior, que faz questão de ignorar seu nome social ao apresentá-la a todos os colegas e clientes no ambiente de trabalho. Perversa? Mais que isso, ela vai além, ainda faz de tudo para montar esquemas de trabalho e escalas para fixá-las nas paredes em negrito o nome de registro dessa trans, para se satisfazer com os funcionários novatos dos outros andares que perguntam quem é funcionário que ainda não conheceram.

Houve também o caso da travesti, amiga minha, que morava em um município de São Paulo. Um vizinho dela, ao passar em um bairro da zona leste de São Paulo a reconheceu na rua, ela estava 'fazendo ponto' na esquina e seu vizinho inescrupuloso tirou centenas de fotos dela e fixou em todos os postes de luz no bairro onde ela morava com a única intenção de humilhá-la e expulsá-la do bairro. Este infeliz, não sabia da realidade e da necessidade que ela passava por não conseguir emprego.

Em um dos meus primeiros empregos, numa farmácia localizada no centro de São Paulo, fui contratada para fazer os pacotinhos de remédios. Lá sofri discriminação declarada, pois a funcionária encarregada proibiu que eu usasse o banheiro feminino e fez questão de deixar isso muito claro quando colocou uma placa na porta do banheiro dizendo “A Cecilia está proibida de usar o banheiro.” Claro que fui até ela perguntar o motivo e ela disse que tomou esta atitude porque eu era muito masculinizada e por isso as outras funcionárias se sentiam constrangidas com a minha presença no banheiro, já que eu queria ser um homem deveria utilizar o banheiro masculino. Fiquei dois dias neste emprego.

A lista dos maus tratos contra os lgbts nos empregos é vasta.
Na grande maioria dos casos os salários dos lgbts são os mais baixos nas planilhas de pagamento.

Quanto aos funcionários bissexuais, meus amigos e amigas que os são, dizem que por serem tidos como excêntricos e muitas vezes fazerem parte do cenário imaginário fetichista, são mais aceitos, não enfrentam esse tipo de discriminação e na maioria das vezes passam até despercebidos, possuem seus salários equiparados com os héteros e são mais respeitados.

Tenho um amigo gay que ouviu seu superior dizer que ele não necessitava ter seu salário equiparado com os demais e que ele não precisa ganhar tão bem, pois não ele não tem família para sustentar, seus gastos são o que ele julga supérfluos e inferiores, encerrando ainda seu argumento ridículo enfatizando que ele é gay, por isso qualquer coisa estava bom e ainda tinha que ser muito grato a ele por ter um emprego.

Sem mencionar os casos onde um hétero acusa um lgbt de algo que ele não fez e seus superiores defendem e favorecem o hétero mesmo vendo que ele está errado apenas por ele ser hétero, enquanto o lgbt que agiu corretamente é escorraçado, humilhado, advertido, ameaçado de demissão ou é demitido até por justa causa por isso, pelo preconceito declarado. Sim, pois ainda tem isso, tem gente que tem mania de dizer que lgbt nunca fala a verdade e nos tratam como se fossemos uma classe inferior.

Todos os funcionários e os serviços por eles prestados são importantes para qualquer empresa, seja pública ou privada, independente da hierarquia.  Todos merecemos respeito e o que todos nós vendemos em nossos contratos de trabalho são os serviços profissionais a serem prestados e não nossos corpos e dignidade. Não é por ser mulher, negro ou lgbt que merecemos ser menos favorecidos monetariamente e termos nossos direitos trabalhistas violados.

Justiça seja feita, existem lgbts sortud@s por aí que não sofrem estes tipos de discriminações, e alguns deles nem irão fazer questão de compreender os relatos e fatos deste texto. Porém, como eu não faço parte do lema inútil que diz “ema, ema, ema, cada um com seus problemas!” luto contra este tipo de discriminação que precisa e deve vir à tona.

Quando concorri ao cargo de conselheira estadual dos direitos da população lgbt de São Paulo, meu intuito nunca foi o de defender somente as lésbicas, mas sim a todos aqueles que foram e continuam sendo oprimidos, é por tais motivos que não aprovo preconceito dentro da comunidade lgbt, pois é nos unindo que teremos força.


O que é assédio moral.


O Dicionário Aurélio traz a seguinte definição para assédio moral - “Rebaixamento moral, vexame, afronta, ultraje. Ato ou efeito de humilhar (-se). Humilhar. Tornar humilde, vexar,
rebaixar, oprimir, abater, referir-se com menosprezo, tratar desdenhosamente, com soberba, submeter, sujeitar (...)”.

Com relação ao assédio moral nas relações de trabalho, psicanalistas, médicos, psicólogos e estudiosos do assunto apresentam definições que levam a um ponto comum: trata-se de
conduta abusiva, adotada por palavras, gestos ou atitudes,  que, intencional e freqüentemente, atinge a dignidade e a integridade física e/ou psíquica da vítima, ameaçando seu emprego e degradando o ambiente de trabalho. Para a CNTS, o assédio moral é um comportamento desumano e anti-ético, abominável, que afeta a dignidade do trabalhador, com prejuízos moral, social e econômico, e o bom desempenho de suas atividades.
  • Uma das estratégias adotadas pelos que praticam o assédio moral no local de trabalho é passar uma imagem irreal da vítima, atribuindo-lhe um perfil neurótico, de mau caráter, de difícil convivência e profissionalmente incompetente.
O assédio moral não deve ser confundido com o assédio sexual em que “a agressão normalmente é uma violência vertical, de cima para baixo, o agressor ocupa posição hierarquicamente superior ou detém posição privilegiada na empresa e abusa do poder que possui para chantagear a vítima, ameaçando-a com o desemprego, para obter favores sexuais”. Assédio Sexual é crime (art. 216-A, do Código Penal, com redação dada pela Lei nº 10.224/91).

Condutas mais comuns que caracterizam o assédio moral.
A pesquisa realizada pela médica do trabalho Margarida Barreto exemplifica as situações/ações de assédio moral mais freqüentes:

- Dar instruções confusas e imprecisas;
- bloquear o andamento do trabalho alheio;
- atribuir erros imaginários;
- ignorar a presença de funcionário na frente de outros;
- pedir trabalhos urgentes sem necessidade;
- pedir a execução de tarefas sem interesse;
- fazer críticas em público;
- sobrecarregar o funcionário de trabalho;
- não cumprimentar e não dirigir a palavra ao empregado;
- impor horários injustificados;
- fazer circular boatos maldosos e calúnias sobre a pessoa;
- forçar a demissão;
- insinuar que o funcionário tem problemas mentais ou familiares;
- transferir o empregado de setor ou de horário, para isolá-lo;
- não lhe atribuir tarefas;
- retirar seus instrumentos de trabalho (telefone, fax, computador, mesa);
- agredir preferencialmente quando está a sós com o assediado;
- proibir os colegas de falar e almoçar com a pessoa.

Outras  formas de controle e pressão sobre o trabalhador:

- Retirar ou limitar a autonomia do profissional;
- ignorar ou contestar as decisões e opiniões;
- apoderar-se das idéias da outra pessoa;
- descumprir o código de ética e as leis trabalhistas;
- fazer gestos de desprezo, tais como suspiros e olhares;
- marcação sobre o número de vezes e tempo que vai ou fica no banheiro;
- vigilância constante sobre o trabalho que está sendo feito;
- desvalorizar a atividade profissional do trabalhador;
- exigir desempenho de funções acima do conhecimento do empregado ou abaixo de sua capacidade ou degradantes;
- induzir o trabalhador ao erro, não só para criticá-lo ou rebaixá-lo, mas também para que tenha uma má imagem de si mesmo;
- repetir a mesma ordem para tarefa simples;
- criticar o trabalho feito ou dizer que o mesmo não é importante;
- induzir a vítima ao descrédito de sua própria capacidade laborativa;
- recusa à comunicação direta com a vítima, dando-lhe ordens através de um colega, por bilhete ou e-mail;
- censurar de forma vaga e imprecisa, dando ensejo a interpretações dúbias e a mal entendidos;
- exigir tarefas impossíveis de serem executadas ou realização de atividades complexas em tempo demasiado curto;
- exigir que cumpra tarefas fora da jornada de trabalho;
- suprimir documentos ou informações importantes para a realização do trabalho;
- não permitir ao trabalhador que se submeta a treinamentos;
- marcar reuniões sem avisar o empregado e cobrar sua ausência na frente dos colegas;
- ridicularizar as convicções religiosas ou políticas do trabalhador.

Características do perfil da vítima segundo a psicanalista francesa MarieFrance Hirigoyen, Margarida Barreto, médica do trabalho e Mauro Azevedo:

- Trabalhadores com mais de 35 anos;
- os que atingem salários muito altos;
- saudáveis, escrupulosos, honestos;
- não se curvam ao autoritarismo, nem se deixam subjugar;
- são mais competentes que o agressor;
- pessoas que estão perdendo a resistência física e psicológica para suportar humilhações;
- portadores de algum tipo de deficiência;
- mulher em um grupo de homens;
- homem em um grupo de mulheres;
- os que têm crença religiosa ou orientação sexual diferente das daquele que assedia;
- quem tem limitação de oportunidades por ser especialista;
- aqueles que vivem sós.

Perfil do agressor:

Pesquisadores apontam que, embora a situação mais frequente de assédio moral seja aquela em que um superior agride um subordinado, há também os casos em que um colega agride outro colega. O agressor, geralmente, julga-se superior em todos os sentidos com relação às outras pessoas; é dotado do sentimento de grandeza e tem necessidade de ser admirado e aprovado; critica as falhas dos demais, mas não aceita ser contestado. Com esse comportamento busca encobrir as próprias deficiências.

Características:

- Tem senso grandioso da própria importância;
- é absorvido por fantasias de sucesso ilimitado, de poder;
- acredita ser “especial” e singular;
- tem excessiva necessidade de ser admirado;
- pensa que tudo lhe é devido;
- explora o outro nas relações interpessoais;
- não tem a menor empatia;
- inveja muitas vezes os outros;
- dá provas de atitudes e comportamentos arrogantes.

A vítima da violência moral deve denunciar o fato ao Sindicato, à Delegacia Regional do Trabalho, a órgão do Ministério da Saúde, ao Ministério Público do Trabalho, ao conselho profissional e comissões de direitos humanos do Poder Legislativo e de entidades como
a Ordem dos Advogados do Brasil, entre outras instituições e entidades.
Denunciar é a mais forte arma contra o assédio e para por fim à impunidade. É possível ao trabalhador pleitear a tutela de seus direitos com base no dano moral trabalhista e no direito ao meio-ambiente de trabalho saudável, garantidos na Constituição Federal.


Onde denunciar?


SÃO PAULO

  • Ministério da Saúde

Coordenadorias Estaduais de Saúde do Trabalhador
Av. Dr. Arnaldo nº 351, 1º andar, sala 137 - São Paulo (SP)
CEP: 01216-000 Fone: (11) 3066-8777 Fax: (11) 3081-9161
E-mail: cerest-coordenacao@saude.sp.gov.br

  • Centro de Referencia em Saúde do Trabalhador do Centro

Rua Conselheiro Crispiniano nº 20, 8°andar, Centro - São Paulo (SP)
CEP: 01037-000 Fone: (11) 3259-2202
E-mail cerest-secretaria@saude.sp.gov.br

  • Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Mooca

Av. Paes de Barros nº 872, Mooca - São Paulo (SP) CEP: 03114-000
Fone: (11) 3291-0520

  • Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Freguesia do Ó

Av. Itaberaba nº 1210/1218, Freguesia do Ó - São Paulo (SP)
CEP: 02734-000 Fone: (11) 3975-0974 Fax (11) 3975-0974
E-mail crst.fo@ig.com.br

  • Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Santo Amaro

Av. Adolfo Pinheiro nº 581, Santo Amaro - São Paulo (SP)
CEP: 04731-000 Fone: (11) 5523-5382 / 5541-8992

  • Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Sé

Rua Frederico Alvarenga nº 259, 5º andar, Parque Dom Pedro
São Paulo (SP) CEP: 01020-030 Fone: (11) 3105-5330
Fax (11) 3106-8908 E-mail crstse@terra.com.br

  • Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Pompéia

Rua Cotoxó nº 664, Vila Pompéia - São Paulo (SP) CEP: 05021-000
Fone: (11) 3865-2077

  • Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

Rua Maria Adelaide L. Quelhas nº 55, Jd. Olavo Bilac - São Bernardo
do Campo (SP) CEP: 09725-610

  • Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

Av. Pref. Faria Lima nº 680, Pq. Itália - Campinas (SP)
CEP: 13036-220 Fone: (19) 3272-8025/1292 fax (19) 3272-1292
E-mail: saude.crst@campinas.sp.gov.br

  • Delegacia Regional do Trabalho

Rua Martins Fontes nº 109, 9° andar, Centro - São Paulo (SP)
CEP: 01050-000 telefone (11) 3150-8106 Fax (11) 3255-6373

domingo, 11 de agosto de 2013

Pai, Não Consigo Te Amar.

Hoje passei o dia todo sem saber o que escrever a respeito do meu pai, mas o fato é que me cobrei por me omitir e não descrever meus sentimentos. Desejei feliz dia dos pais a todos os pais do meu Face, Twitter e Linkedin, mas no meu blog o silêncio foi a única descrição para meu sentimento.

Quando eu era criança não me recordo de nenhuma vez em que houve uma cena familiar de carinho entre meu pai e eu. As surras, as vergonhas, os palavrões se fizeram meus companheiros por muitos anos entre nós em nossa convivência diária.

Acho que a vergonha dele era porque eu “não parecia normal” gostava de brinquedos e brincadeiras de menino, e claro, apanhava muito por estes motivos. Apanhava tanto que nem meus irmãos compreendiam o por que de tanta surra.

As palavras que mais me recordo vinda dos lábios do meu pai eram: “Sua Paraíba!” “Mulher macho!” “Cria jeito traste!”. Bem isso era tão comum, e durante as bebedeiras ficavam mais pesadas.

Um dia meu pai chegou de madrugada do serviço. Naquele dia tive uma discussão com o filho de um amigo dele, acho que eu tinha uns 7 anos e bati no muleque de 13, ele tinha me chamado de mulher macho, pois como todos ele também já havia escutado meu pai me chamando assim.    

Meu pai ficou sabendo do ocorrido pela boca de seu amigo durante o horário de serviço, na época ele era garçom ou metri no restaurante Barra Limpa, do cantor Roberto Carlos na época da Jovem Guarda.

Naquela madrugada meu pai chegou alcoolizado, minha mãe e irmãos estavam dormindo, mas acordaram com os meus gritos. Meu pai me ajoelhou no chão e chutou por várias vezes minha cabeça gritando “Você vai aprender a ser mulher nem que eu tenha que te matar!”. Lembro que o sapato dele estava engraxado e brilhava e eu pedia para ele parar. Depois vi a sombra da minha mãe chegando e gritando “Homem, você matou a minha filha!”

Hoje vejo o pessoal fazendo apologia para volta dos militares. Naquela época a mulher que fosse até uma delegacia falar contra o seu marido ficava presa, pois os militares achavam naquela época que o ser absoluto do universo eram os homens e este tipo de mulher só poderia ser vagabunda. Tem gente que não sabe o que é ditadura militar!

Desmaiei. Durante o dia tive febre e vomitei muito. Minha mãe me levou escondida na farmácia de um senhor que era como se fosse médico do bairro, mas no dia seguinte eu já estava com muito sangue purulento (com pus) saindo do meu ouvido esquerdo - que hoje graças a isso escuto pouco.

Minha mãe ficou apavorada e mais uma vez escondida me levou até o hospital, onde o médico disse que eu havia perfurado o tímpano.

Esses são os tipos de recordações que tenho dele. Não sinto nada por ele ser homofóbico. Sinto por ele não ter sido Pai.

Se você tem filho e ele for homossexual lembre-se que ele(a) não deixou de ser seu filho(a), não permita que um preconceito inútil seja maior.Quando você envelhecer não vai poder exigir amor de seu/sua filho(a), pois com sua forma preconceituosa você terá matado esse sentimento dentro dele(a)... Todos temos sonhos e desejos na vida.

Sinto muito Pai, mas não consigo te amar.


*Esse e outros fatos serão mencionados no livro que estou escrevendo. 

sábado, 10 de agosto de 2013

Homenagem ao Dia Da Enfermeira(o) e ao Sr.Honório

Hoje, dia 10/08/2013 é dia da Enfermeira (o). Profissão que fiz parte do quadro de profissionais da área. Tenho orgulho em dizer que durante 23 anos foi minha profissão! 

Mesmo atuando juntamente na política por todos estes anos, sempre briguei muito pela classe como um todo. 

Fiz parte da comissão de funcionários de alguns hospitais onde trabalhei lutando pelos direitos dos funcionários e conquistei muitos amigos os quais alguns mantenho contato até hoje e de outros guardo recordações boas, outras tristes, outros que já partiram deste mundo...

Uma das recordações que me emociono muito foi em 2003, quando eu trabalhava no período noturno em um hospital municipal da zona leste. Até aquela época, boca dura que eu sempre fui, trabalhava em quatro setores em uma noite só: Central de Material, Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico e sala de Emergência do PS.

A enfermagem para quem não sabe tem ainda três divisões de profissionais: Enfermeira (o), Técnica (o) de Enfermagem e o Auxiliar de Enfermagem.

Este hospital que citei da zona leste era e continua sendo muito solicitado pela população da região, então neste hospital entram muitos casos de ferimento de arma de fogo, arma branca, queimados, vítimas de acidentes de qualquer tipo, entre outros, até 2004 podia-se dizer que era o típico hospital de guerra. Eu sempre começava meu plantão pegando o serviço na sala de emergência e ia seguindo aos outros setores, pois na sala de emergência com 12 leitos a teoria é que ficavam três funcionárias, na teoria... Na prática éramos sempre duas e tinha rezar para que ninguém faltasse ao plantão. Não cito nomes para não deixar as (os) colegas constrangidas (os), principalmente uma das enfermeiras encarregada dos setores que me tratava muito mal, era com uma raiva e eu não sei por que, mas mesmo assim aprendi a gostar dela mesmo ela sendo homofóbica, lesbofóbica, transfóbica entre outras coisas. No meio de tanta ignorância, lá no fundo ela tinha também um lado humano e quando aprendeu a me ver com outros olhos passou a me respeitar e a me escravizar menos. Quero ressaltar aqui que eu nem tive um caso com ela, hein! kkkkk

Em uma dessas noites chegou um paciente com quem aprendi muito da minha vida espiritual, o Sr. Honório.
Ele deu entrada no hospital com parada cárdio respiratória. O Sr. Honório já havia feito várias cirurgias no coração e não me recordo ao certo se ele estava na fila para transplante esperando por um doador.

Como passou mal e o hospital onde o Sr. Honório fazia tratamento ainda não tinha uma vaga de leito disponível ele ficou ali. Lembro que ele tinha medo de dormir e morrer dormindo, riamos juntos dessa história, contei toda minha vida àquele homem de 72 anos e ele me contou a dele.

Os médicos me diziam que o quadro dele já era fechado, pois doadores eram difíceis. Então fomos nos tornando cada dia mais amigos... Um dia cheguei para trabalhar e os nove filhos dele, sim nove filhos, estavam lá, me abraçaram me agradeceram o carinho e o afeto que eu tinha com o Sr. Honório assim como também com os outros pacientes, mas o Sr. Honório era especial...

Dois dias depois, após uma hora de plantão o Sr. Honório teve a primeira parada cardio respiratório. Fiquei aflita e junto com a equipe conseguimos reverter o quadro que era incrível, pois o Sr. Honório voltava falando, durante os sete episódios. No oitavo e ultimo abriu seus olhos azuis, me olhou e disse “Filha, não me chame mais, estava num jardim lindo com os meus pais, irmãos e alguns amigos me recepcionando e só volto quando você me chama.” a equipe ficou perplexa, os dois médicos me olharam com espanto e o Sr.Honório continuou a falar “Cecilia, sei do seu sofrimento, mas acredite em Deus e em outra vida, continue a ajudar as pessoas como você faz sem olhar a quem, que todos os bons espíritos estão do seu lado, e eu minha filha, Deus me deu a oportunidade de te conhecer antes de eu fechar os olhos, estarei lá também te esperando quando for o seu dia da passagem.. sua missão esta apenas na metade. Não me chame mais, hein.” Respondi com um simples “está bem” e o Sr. Honório teve a sua ultima parada. Depois disso, mesmo com várias tentativas ele não voltou mais. Eu chorei muito aquela noite, no dia seguinte quando meu plantão terminou, dirigi até minha casa com uma dor imensa no peito.

Passaram alguns dias e recebi uma visita numa noite de plantão. Era a filha caçula do Sr.Honório, que me abraçou forte e me deu uma caixinha com um brinco lindo, ela disse que seu pai pediu que ela comprasse para mim, mas deixou claro a ela dizendo “quero que o brinco seja deste que homem também use e diga a Cecilia, minha filha que sempre estarei com ela e que é para ela continuar ajudando as pessoas mesmo com a ingratidão de alguns.

Bem Sr. Honório, continuo ajudando as pessoas e cá para nós, os hospitais públicos estão ficando cada vez piores, assim como algumas pessoas também...

Esta profissão, embora louca e também para loucos é extremamente gratificante, pois tenho sempre o orgulho de estar sendo vista pelos olhos de Deus.
Depois da partida do Sr.Honório, pensei muito em tudo o que passei na vida e o que fiz pelas pessoas e percebi que poderia fazer mais.

Em 2008 deixei de trabalhar dentro dos hospitais e intensifiquei minha luta pelos hospitais, funcionários e pacientes que por eles passam. Sigo lutando muito por uma melhora no atendimento médico hospitalar para a população, melhores estruturas nos hospitais, condições trabalhistas e por uma remuneração digna. 

Cumpro meu destino e minha promessa ao Senhor Honório: continuo ajudando cada vez mais pessoas. Afinal de contas, é mesmo como ele me dizia, sou um íma!

Feliz dia da Enfermeira (o), da enfermagem também e a esses profissionais que mesmo sendo sucateados e por muitas vezes escravizados, jogados de um lugar para outro, sempre sendo culpados de todos os erros em hospitais e em outros lugares, também dedicam sua vida para salvar vidas ou para dar uma dignidade humana no momento triste de uma doença.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Leiam! Nota Sobre Cafetinagem e Tráfico De Pessoas

Esta nota tem todo o meu apoio!
 Sou contra todo e qualquer tipo de discriminação não importa de onde venha. 
Vamos continuar nossa luta contra a discriminação e não vamos parar!

O governo e a imprensa deveriam lutar para abrir oportunidade de estudo e mercado de trabalho para quem não quer entrar ou deseja sair da prostituição como forma de trabalho e sobrevivência. Acredito que os veículos de grande comunicação poderiam fazer mais que apenas relatar e gerar novas "opiniões" discriminatórias. 
Cecilia Bezerra
#RESPEITOTRANS


NOTA SOBRE CAFETINAGEM E TRÁFICO DE PESSOAS

A entidade de defesa dos direitos humanos GRETTA – Grupo de Resistência de Travestis e Transexuais da Amazônia, que tem como uma de suas finalidades promover a cidadania e saúde plena de travestis e transexuais, combater os estigmas socialmente construídos, bem como construir paradigmas que realmente representem a realidade das travestis e transexuais do Estado do Pará, vem publicamente expressar sua opinião acerca da entrevista realizada pelo programa SBT Repórter acerca do fechamento de ONG que abrigava travestis em São Paulo. 

Renata Taylor Andrade - Presidenta da GRETTA 
Antes de expormos nossa opinião sobre o tema, queríamos publicizar nossa indignação com o repórter Darlisson Dutra que durante toda a matéria desrespeitou a identidade de gênero feminina das travestis com termos como “um travesti” ou “o travesti” e sem contextualizar a situação de vulnerabilidade das pessoas trans, bem como a promotora pública que cedeu entrevista ao repórter transfóbico e que citou as pessoas vivendo com HIV/AIDS como “Aidéticos” reforçando o preconceito a estas pessoas e a criminalização dos mesmos. Por tudo isso Consideramos a matéria Transfóbica e reforçando conceitos conservadores e excludentes que nos colocam a margem do processo de acesso a cidadania. EXIGIMOS RETRATAÇÃO PÚBLICA DO SBT.
Sobre a declaração da Coordenadora de Proteção a Livre Orientação Sexual, Bruna Lorrane, ao SBT, achamos que a citação foi descontextualizada da realidade em que vivem as travestis e transexuais e sugerimos retratação. Em seu facebook Bruna justificou ter sido vítima da má edição da reportagem e alegou não ter sido esta a sua intenção.

Sobre a repercussão da matéria e sobre o Tráfico de Pessoas Travestis e Transexuais, gostaríamos de ressaltar que:
1. Cerca de 95% de toda a população de pessoas Trans do Brasil vivem da prostituição, por inúmero motivos: exclusão familiar, social, educacional ou mesmo por opção. O fato é que esta é nossa principal profissão e a falta de uma regulamentação profissional pelo Ministério do Trabalho infere em vulnerabilidade e violência, não acesso a direitos trabalhistas;
2. A exclusão de travestis e transexuais do mercado formal de trabalho é um assunto de extrema importância, porém vale ressaltar que a intenção não é discriminar a prostituição nem as prostitutas, mas defender o direito à escolha profissional para travestis e transexuais a partir de políticas públicas que combatam a transfobia e garantam o acesso e a permanência na escola.
3. Vale comentar que as palavras “travesti” e “transexual” sequer aparecem nos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), nem na parte intitulada Orientação Sexual, nos Temas Transversais.
4. A discriminação efetivamente barra a maioria das travestis do sistema educacional e de carreiras de classe média. O mercado formal de trabalho é basicamente fechado às travestis. Uma minoria bem pequena tem formação superior ou qualificações profissionais. As travestis muitas vezes são rejeitadas pelas famílias e expulsas de casa;
5. Vale ressaltar que cafetina ou cafetão, é aquela pessoa que tira proveito da prostituição alheia participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça, muitas das vezes coagindo a vítima com agressões físicas e extorsão financeira. Porém, sendo a prostituição uma das únicas alternativas para a maioria das travestis brasileiras, cria-se uma rede solidária de companheiras que alugam moradias a baixo custo para aquelas que querem viver da prostituição de maneira digna, sem extorsão ou mesmo obrigação de qualquer tipo de atividade por parte das alojadas. Defendemos esta prática e condenamos a pratica da cafetinagem.
6. Entendemos que somente a regulamentação da profissão de prostitutas pode extinguir este tipo de violência praticada pelos exploradores do sexo que utilizam estas travestis, além de garantir direitos trabalhistas a esta parcela da população que quase nunca ouve falar em direitos e se sujeitam a todo tipo de mazela para sobreviver.
7. Defendemos políticas de inclusão das Travestis e Transexuais na escola, bem como no mercado de trabalho, queremos acesso aos projetos sociais do governo como BOLSA ESCOLA, BOLSA FAMILIA e outros.

Nesse mesmo ânimo, a GRETTA reafirma a sua posição absolutamente contrária a qualquer movimentação ou prática que criminalize as Travestis e Transexuais e impeça que seres humanos sejam felizes e exerçam sua afetividade e sexualidade, em função de moralismos hipócritas que devem ser combatidos por cada um de nós, cotidianamente.

Renata Taylor Andrade
Presidenta da GRETTA 

* Esta publicação foi autorizada por sua autora.* 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Suspeitei Desde a Infância!

Foto: RESPEITOGAY

Eu já sabia disso desde a infância, quando sofria maus tratos de meu pai por apresentar "características" homossexuais e o Batman não aparecia para me salvar. Eu achava que ele também tinha medo do meu pai...

Batman, o cavaleiro das trevas, saiu do armário e assumiu a homossexualidade em um novo livro de história em quadrinhos lançado na Itália.

A revelação vem nas vésperas de um novo filme onde Batman vai contracenar com o Super Homem em um novo filme anunciado pela Warner Bross Pictures, previsto para estrear em 2015.

Gay, narcisista e bizarro, o Homem Morcego do livro do italiano Marco Mancassola confirma o que muita gente suspeitava sobre a vida de um herói que se veste com uma estranha roupa de borracha para aventuras com seu companheiro inseparável, Robin, que se veste também de modo exótico.

O livro chega esta semana à Inglaterra e já provoca muita polêmica antes mesmo do lançamento.O herói aparece em algumas cenas ao lado de Sir Elton John em Nova Iorque, em jantares de caridade.

Na versão de Mancassola, Batman caça garotos pela noite de Gotham City, apesar de ter um caso fixo com Robin.

Mancassola diz que apenas mostra o lado humano de Batman, de quem é fã. O romance imagina as obsessões eróticas de outros heróis das Histórias em Quadrinhos, como Superman, Senhor Fantástico e outros, cujas habilidades estão entorpecidas pelo processo de envelhecimento. 

Ao retratar Batman tão abertamente gay, Mancassola explicita comentários antigos sobre o herói. Grant Morrison, que escreveu histórias do Batman para a DC Comics, afirmou que "ele está destinado a ser heterossexual, mas a base de todo o conceito é totalmente gay", segundo reportagem do The Independent.

A homossexualidade é apenas um aspecto da vida erótica secreta de Batman, de acordo com Mancassola. Ele disse ao jornal The Independent: "Batman sempre teve um lado muito escuro". Ele acrescentou: "O narcisismo é o seu abismo interior. Ele é apaixonado pelo mistério da juventude".



O autor se defende dos ataques que vem recebendo de fãs: "Não houve intenção de chocar ou ofender ninguém: a vida erótica dos super-heróis é apenas uma tentativa de explorar a humanidade complexa de um grupo de personagens".

Fonte: Estadão